
Um canto de revolta pelos ares do Quilombo dos Palmares*
Waidd Francis de Oliveira – Psicanalista, Professor da FDCL e membro da ACLCL
Matheus Velozo – Professor, Historiador e Membro efetivo do Instituto Histórico Geográfico De Congonhas.
Palmares foi um quilombo formado, em sua maioria, por diversos negros escravizados que se rebelavam e fugiam de seus senhores e se refugiavam no interior da capitania de Pernambuco, em uma região conhecida como a Serra da Barriga. A localidade é reconhecida por ser um abrigo, ou um local de fuga e de resistência, não só de pessoas escravizadas, mas também de homens e mulheres que queriam, ou eram obrigados, a fugir do poder colonial. O Quilombo dos Palmares, provavelmente, se constituiu na virada do século XVI para o século XVII e foi uma junção de vários pequenos mocambos que, a partir do seu crescimento econômico e populacional, se uniram e foram liderados por uma figura política e militar. Durante mais de um século de existência, Palmares teve diversos lideres, mas o mais conhecido deles foi Zumbi.
A trajetória de Zumbi é repleta de mitos e lacunas devido a escassez de fontes sobre suas origens. Entretanto, uma versão aceita entre alguns historiadores é que Zumbi provavelmente nasceu em Palmares, foi capturado em uma das muitas expedições do regime colonial, sendo presenteado a um padre da região, ganhando o nome católico de Francisco. Foi educado e alfabetizado. Mas o sangue da origem de Francisco falou mais alto, e em 1670, com quinze anos de idade, fugiu de volta para o Quilombo dos Palmares. Abandonou o nome cristão e passou a ser conhecido como Zumbi.
Com o passar do tempo o nome de Zumbi e do Quilombo dos Palmares não puderam mais se separar. Quilombo dos Palmares se tornou uma região autônoma e independente, transformando-se em um símbolo de negação diante da colonização e ponto culminante da resistência à servidão, onde, em seu auge, Palmares chegou a ter cerca de 20.000 pessoas, ameaçando todo o sistema colonial escravista.
Segundo o historiador Flávio dos Santos Gomes, as primeiras referências documentais sobre Palmares é datada de 1597, onde registra-se sobre cativos que promoveram uma insurreição em um engenho da região e se aquilombaram. Palmares surgiu dentro de uma sociedade em que a economia dependia da produção do açúcar e da escravidão. Naquele contexto a escravidão permitia a sustentação do sistema de produção desejada.
Palmares despertava sentimentos por diversos motivos. Seja pelo fato de constituir-se como um local de resistência e ameaça à instituição escravista, desenvolver uma economia e sociedade baseada no uso coletivo da terra ou mesmo comercializar seus produtos com vizinhos mais próximos e pelo ideal comunitário e de liberdade.
Desde a primeira investida contra Palmares, em 1655, várias foram as tentativas na expectativa de dizimá-lo, totalizando 15 investidas até 1663. Em 1678, a liderança dos palmaristas “Ganga Zumba”, após resistir a uma forte investida, assinou um acordo de paz com o governo colonial. Zumbi nesse momento insurgindo-se contra o acordo de paz se afirma como líder político e torna-se o novo líder de palmares, nomeado pelos chefes do “conselho”. De tal maneira, as investidas da administração colonial contra palmares continuaram e foram intensificadas.
Palmares é considera destruída no ano de 1695 com as expedições do Bandeirante Domingos Jorge Velho e após anos de ataques militares e estratégias de “guerra biológica” através da disseminação das chamadas “bexigas” (varíola) entre os palmaristas pelos bandeirantes. A batalha, hoje esquecida, seria seguida de uma das maiores chacinas da história do Brasil: um grande número de negros feitos prisioneiros foram degolados, e não foram poupadas as mulheres e nem as crianças.
Zumbi foi capturado e morto no dia 20 de novembro de 1695, provavelmente vítima de uma traição, na confiança de um amigo, seu algoz. Sua morte foi anunciada nos mais distantes rincões da colônia.
Segundo a pesquisadora Ynaê Lopes dos Santos, a história da resistência escrava não começa nem acaba com a queda de Palmares ou a morte de Zumbi. Ela se mostra presente no Brasil há mais de quinhentos anos e inclusive nos dias atuais, expressando-se das mais diversas formas, adaptando-se às mais diversas condições, mas sendo necessária sempre, para a compreensão do que somos e pressuposto da sociedade que queremos construir.
* Canto das três raças – Clara Nunes.
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