Oscar de Alencar Araripe e a Imaculada: manifesto de pureza e renovação literária
Moises Mota
Presidente da ACLCL
Membro do PEN Club International
Associado do Inst. Histórico e Geográfico de MG
Entre os anos de 1972 e 1986, em Mirantão, no sul de Minas Gerais, Oscar Araripe dedicou-se à criação de uma obra monumental, que começou com 1500 páginas manuscritas com grafite sobre papéis brancos. Após um intenso processo de revisão, o texto foi reduzido e estruturado, resultando na atual versão de 682 páginas, enriquecida por 36 ilustrações da série Uaupés, desenhadas pelo próprio autor e intitulada “Imaculada: a Amazônia que nos deu à luz”. Essa obra é o marco de um novo gênero literário, a “Imaculada”, cuja essência combina pureza poética e coragem visionária para explorar utopias presentes e críticas profundas à sociedade contemporânea.
A proposta de Oscar Araripe, ao apresentar a “Imaculada” como um novo gênero literário, abre um território de investigação criativa e filosófica. Este gênero, nascido em diálogo com a criação da obra pictórica Flores para a Imaculada Conceição, escapa às molduras convencionais da literatura e sugere uma poética da pureza. Trata-se de uma narrativa que se ergue sobre valores, visões e utopias que não só dialogam com o real, mas o transcendem ao imaginar uma sociedade sem amarras, baseada na coragem de expor ideias que, na era moderna, muitas vezes são”canceladas”.
A “Imaculada” surge da necessidade de pensar além da atualidade, propondo uma utopia presente. Não é simplesmente uma visão ideal projetada num futuro ideal; ela convida a uma experiência de elevação no aqui e agora. A Imaculada é, assim, a própria voz da “candura que fala”, que se expressa com simplicidade e coragem, reivindicando posições com uma linguagem desarmada e poética. Oscar Araripe elenca ideias como o “Carnaval da Elevação”, o “Governo dos Poetas e Jardineiros” e o “Santuário da Amazônia” , entre outras, que provocam a sociedade a reimaginar-se onde o dinheiro perde seu valor comercial e se torna matéria-prima de balões e pipas, ou pavimento de estradas. Os símbolos do poder e da competitividade cedem lugar à visão de um mundo em paz, onde a política se dissipa e o voto passa a ser dado a ideias e não a pessoas. É um eldorado do agora, um projeto que grita, sem amarras, por uma renovação essencial.
Neste gênero inaugural, o individualismo perde terreno para um “pessoalismo” que respeita a dignidade da pessoa em sua integração com o coletivo e o universal. A excelência literária, para Araripe, é essencial para a Imaculada, que aspira ser mais que uma proposta; ela se posiciona como uma forma literária que não busca apenas instruir ou entreter, mas dignificar e transcender, como um sermão que é ao mesmo tempo uma poética e um ideal de sobrevivência.
A obra Flores para a Imaculada Conceição, hoje entronizada no Museu Aleijadinho, em Ouro Preto, se torna então o marco inicial da Imaculada, um gênero que assume as formas mais diversas – do discurso poético à utopia prática e que está presente no seu último livro.
Em última análise, a Imaculada não quer apenas comunicar um conteúdo, mas proporcionar uma experiência de elevação, um chamado literário que Araripe descreve como uma “excelência possível”, em que cada ideia, imagem e palavra ressoam como sementes de um mundo reinventado. Estamos testemunhando não apenas um novo gênero literário, mas uma nova linguagem de esperança e renovação.
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