Margarida – A flor que deixou um jardim de lembranças
Moises Mota*
Há pessoas que passam pela vida deixando um rastro de luz, como se tivessem nascido para tornar tudo mais leve, mais bonito. Margarida Maria Moraes Cyrino era assim. Professora, pedagoga, pianista e amante dos animais, ela transformava o ordinário em extraordinário com um toque de simplicidade e um sorriso sempre presente.
Margarida costumava dizer que aprendera a tocar piano pelas cores. Tinha apenas seis anos quando suas pequenas mãos deslizaram pelas teclas, guiadas não por partituras, mas pela magia transmitida por sua madrinha, a organista Maria Lydia de Andrade. E assim foi: Margarida tocou a vida como uma melodia, harmonizando o trabalho nas salas de aula com os sonhos que compartilhava com aqueles ao seu redor.
Seu nome e sua vida carregavam uma devoção especial. Margarida nasceu um dia após a festa litúrgica em honra a Santa Margarida Maria de Alacoque, a monja visitandina que, segundo a tradição cristã, recebeu visitas do Sagrado Coração de Jesus ao longo de 17 anos. Inspirada pela santidade que seu nome evocava, Margarida viveu com uma fé discreta, mas presente em seus gestos de amor ao próximo.
Por décadas, ensinou Estatística e exerceu a função de Pedagoga Educacional na rede estadual, deixando sua marca em escolas como o Narciso de Queiroz, o Monsenhor Horta e o extinto Inconfidência. No entanto, era nos intervalos entre números e teorias que sua essência transparecia: uma mulher de alma generosa, altiva e cheia de histórias para contar.
A história e a cultura faziam parte de seu DNA. Filha do farmacêutico Guilherme Albino de Almeida Cyrino, que dá nome a uma prestigiada comenda da ACIAS, e de Maria Inácia de Moraes Cyrino, Margarida era sobrinha de personalidades ilustres, como o médico Alfredo Albino, cofundador da Sociedade Beneficente São Camilo, e o advogado e historiador Vicente de Andrade Racioppi. Apesar dessas heranças notáveis, eram o piano, sempre que possível, e os cães que acolhia com carinho, que mais a encantavam.
Margarida compartilhou sua vida com suas irmãs Maria Ângela, a Baró, e Regina, que dividiam seus talentos e afeto. Como mãe, foi exemplo para suas filhas – Lydia, administradora, e Daniella, médica – e inspiração para seus netos de sangue e do coração. Sua casa era um refúgio de alegria, onde amizades floresciam e sorrisos eram abundantes.
Partiu no último sábado, deixando um vazio difícil de preencher, mas também uma saudade que acalenta. Quem teve o privilégio de conviver com Margarida sabe que sua presença continuará viva – em cada nota de piano, em cada risada compartilhada e na lembrança de seus gestos simples, mas cheios de significado.
Hoje, Margarida toca em outro plano, com o mesmo piano de cores que a acompanhou por toda a vida, eternizando sua generosidade e sua luz.
*Presidente da ACLCL, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e do PEN Club International
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