É pela paz que eu não quero seguir admitindo*

Waidd Francis de Oliveira
Psicanalista, Professor da FDCL e membro da ACLCL
Emanuelle Vitória de Souza Oliveira
Estudante do 7º período da FDCL

No texto “Considerações Contemporâneas sobre a Guerra e a Morte” (1915), Freud reflete sobre os impactos psicológicos da Primeira Guerra Mundial, abordando como a guerra desafia as ilusões civilizatórias da humanidade. A mensagem central do texto é a constatação de que, apesar do progresso cultural e moral, a guerra expõe impulsos humanos primitivos, como a agressividade e a destruição, que são parte fundamental da natureza humana.

Segundo Freud, haveria uma certa dificuldade em evitar as guerras em função das diferenças sociais experimentadas pelos diferentes povos, sendo que essas diferenças poderiam ser pela cor da pele ou a diferença do próprio desenvolvimento. Isso levava em consideração as grandes nações de raça branca que dominavam o mundo.

Freud argumentava que a guerra traz à tona a fragilidade da civilização, revelando que, sob a superfície de normas sociais e valores éticos, persistem os instintos violentos e irracionais. Ele também observava como a guerra força as pessoas a confrontarem a morte de maneira direta, rompendo com a negação ou a repressão desse fato inevitável. A guerra, nesse contexto, é um lembrete brutal da realidade da morte, que é muitas vezes evitada no cotidiano.

Segundo a Agência Brasil, o número de conflitos em 2023 foi o mais elevado desde 1946, chegando a um quantitativo de 59 conflitos armados em todo o mundo, sendo a maioria no norte da África e algumas no Golfo Pérsico, na península arábica e uma no leste da Europa.

Os gastos com armamentos em 2023 alcançaram a ordem de 2,2 trilhões de dólares, segundo o jornal Folha de São Paulo (Editorial – 14/02/2024). Na outra ponta temos um problema tão sério quanto as guerras. A fome já não bate à nossa porta, mas ocupa a minha, a sua, a nossa casa, o planeta. Os números impressionam, a fome atinge entre 702 e 828 milhões de pessoas no mundo, segundo o relatório da Rede Penssan.

Neste contexto, podemos concluir que uma em cada onze pessoas no mundo e uma em cada cinco pessoas na África passaram fome em 2023, de acordo com o último relatório da SOFI (O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo). Dessa forma, podemos observar que o Continente Africano, onde há mais guerras, também é o continente que mais pessoas são privadas de alimentos. Apesar de muitos países Africanos serem considerados subdesenvolvidos, eles alcançaram em 2021 um montante de 39,7 bilhões de dólares em gastos militares, conforme o Instituto Humanitas Unisinos. Segundo José Ortega y Gasset, um filósofo Espanhol, “Não é a fome, mas, pelo contrário, a abundância, o excesso de energias, que provocam a guerra”.

Na obra “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, as pessoas são acometidas por uma espécie de cegueira branca, e isso faz com que muitas delas em determinado momento passem a se preocupar somente com os seus problemas individuais e imediatos. Cabe a reflexão sobre qual cegueira nos acomete com relação à fome no mundo.

* Minha alma – Rappa

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