Há um passado no meu presente… O sol bem quente lá no meu quintal.*

Waidd Francis de Oliveira – Psicanalista, Professor da FDCL e membro da ACLCL

Artur Azevedo, em sua obra “Contos Cariocas”, retrata a cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX. O livro do qual tive acesso foi publicado na série “Reserva Literária”, pela editora Com-arte em parceria com a Edusp, ambos da USP. A proposta do referido projeto foi o resgate de obras há muito esquecidas ou fora de circulação, mas de valor artístico e cultural permanente.

Maria do Rosário Rivelli, por sua vez, publicou o livro “Rosa nos Tempos”, em 2018, pela LESMA editores. Uma obra que traz a narrativa da sua infância e adolescência, e que de forma muito especial nos conduz a misturar as suas lembranças também com as nossas. Afinal, todos nós de alguma forma tivemos a nossa rua e o nosso quintal.

Apelidos dos colegas da rua e da escola, casos de família, animais de estimação, vizinhos peculiares e personagens conhecidos fazem parte do dia a dia e das histórias que conduziram Rivelli por caminhos desafiadores, melancólicos, mas também saborosos.

Em alguns momentos as obras de Azevedo e Rivelli assemelham-se, caracterizando-se pela naturalidade e simplicidade das pessoas, dos assuntos, dos fatos corriqueiros, das casas, das ruas, e da cidade, com seus ilustres e conhecidos personagens.

Para Rivelli, a escola representa um universo de desafios e descobrimentos: festas, gincanas, jogos de vôlei e futebol, e logicamente, os estudos.

Com a leitura percebemos a importância das imagens e da memória da vida cotidiana, no interior de nossos lares, e dentro de quase todos eles, os quintais, que sempre representaram um mundo à parte. Lá fora a rua, tão convidativa para as travessuras das crianças e paixões juvenis, sempre nos incitando a romper os limites. Ao se deparar com esse ambiente, já adulta, Rivelli relata a nostalgia trazida pela certeza de que nada  poderia ter registrado aqueles momentos, somente um sentimento de pura saudade.

Rivelli nos conduz a uma leitura que resgata a beleza e a simplicidade de quem realmente somos. Nos remetem a lembranças a tal ponto de sentirmos aromas e sabores da infância.

Ter acesso a esse tipo de escrita é a verdadeira “glória”, segundo Humberto de Campos, no prefácio da obra “Contos Cariocas”,  na edição de 1928.

*Bola de meia, bola de gude – Fernando Brant / Milton Nascimento

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