
Ela vem e espalha conflito… Ganha nem que seja no grito*
Waidd Francis de Oliveira – Psicanalista, Professor da FDCL e membro da ACLCL
O bullying, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é um termo ainda pouco conhecido ao grande público, embora suas consequências já sejam amplamente conhecidas. Originário do inglês e ainda sem uma tradução precisa no Brasil, ele geralmente é usado para descrever comportamentos agressivos no contexto escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas.
Os atos de violência são predominantemente intencionais e muitas vezes ocorrem repetidamente contra um ou mais alunos que, por alguma razão, não conseguem enfrentar ou evitar as agressões que sofrem. Mesmo quando enfrentam ou evitam, carregam consigo as marcas dessas ações por um tempo, e em alguns casos, ao longo de toda a vida.
O bullying pode se manifestar de diversas maneiras, incluindo:
1 – Verbal (insultos, ofensas, difamação, apelidos pejorativos), popularmente conhecido como “zoar”.
2 – Física e material (agressões físicas, empurrões, beliscões, roubo, furto ou danos aos pertences dos colegas).
3 – Psicológica e moral (humilhação, exclusão, discriminação, chantagem, intimidação, difamação).
4 – Sexual (abuso, violência, assédio, insinuações).
5 – Cyberbullying ou virtual (práticas de bullying realizadas por meio de ferramentas tecnológicas, como celulares, câmeras de vídeo e a internet).
Atualmente o Cyberbullying, que se expandiu significativamente, desafia psicanalistas, psicólogos, psiquiatras, pais, educadores e autoridades, não apenas em termos de compreensão, mas também quanto às formas de disseminação. Isso se deve à facilidade de execução, com a possibilidade de ser iniciado por meio de um computador ou celular, além da viabilidade de recrutar seguidores nas redes sociais. É, sem dúvida, um novo desafio a ser enfrentado.
Normalmente, temos dificuldade em identificar as motivações específicas ou justificáveis para esse tipo de comportamento. A professora Nina Saroldi argumenta que o bullying não pode ser simplesmente atribuído à falta de civilidade da criança ou a um estado selvagem. Ela sugere que o bullying pode ser visto como uma repetição ou reprodução de um sintoma social, manifestando-se como a busca pelo domínio sobre os outros, aproveitando-se da fraqueza alheia como um trunfo individual, um sucesso pessoal, uma demonstração de força.
Por outro lado, há quem rotule as reações das vítimas do bullying como “mimimi” e atribua esse fenômeno às gerações atuais. No entanto, talvez seja o contrário: uma oportunidade para as pessoas expressarem seu desconforto diante das interações negativas, um mal-estar diante do desrespeito à subjetividade de cada indivíduo.
O direito de se expressar e viver livre de bullying é frequentemente negado devido à intolerância injustificada. O bullying é um problema sério, independentemente do ambiente em que ocorre, e é ainda mais sério quando se trata de compreender suas motivações e combatê-lo.
Em muitos casos, as crianças são consideradas como folhas em branco, frequentemente moldadas pelas ações daqueles que as cercam, não apenas por adultos ou outras crianças, mas também pelo impacto das redes sociais, que por vezes confundem mais do que esclarecem.
No entanto, não devemos delegar a responsabilidade de cuidar das crianças, sejam elas filhos, sobrinhos, enteados, afilhados ou qualquer outra relação. Devemos permanecer atentos.
Lembro o personagem Zezé da obra “Meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos, que nos ensina que as crianças frequentemente são incompreendidas, mas merecem nosso esforço e dedicação para compreendê-las.
Segundo Freud, como sociedade, precisamos revisar e refletir profundamente sobre nossos fracassos, pois tudo o que não lembramos e elaboramos tendemos a repetir.
*Intolerância – Lenine.
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