Deus me faça brasileiro, criador e criatura*
Acad. Waidd Francis de Oliveira
*Meninas do Brasil – Moraes Moreira.
Nunca se ouviu falar tanto na palavra solidariedade, quanto agora. Solidariedade, segundo o dicionário da Língua Portuguesa Silveira Bueno significa cooperação, assistência moral, compartilhamento dos mesmos sofrimentos, demonstração de apreço a alguém ofendido. A solidariedade protagonizou-se como virtude e como um direito fundamental do ser humano. Este, segundo o jurista Paulo Bonavides, “é a ideia de vinculação essencial à liberdade e à dignidade da pessoa humana”. Essa mesma dignidade que foi ausente por muitos anos no Brasil, mas tão sonhada e idealizada, finalmente foi resgatada e inserida na Constituição Federal de 1988. Com o crescimento desses direitos tão essenciais à vida de mulheres e homens, tornou-se necessária a sua separação em gerações de direitos. Gerações essas que pudessem aumentar e fortalecer cada vez mais a sua aplicação entre todos os povos. Desta forma, os direitos fundamentais de primeira geração são os direitos civis, de liberdade individual e os direitos políticos. Os de segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais. Segundo o professor e procurador da República José Adércio Leite Sampaio, “A terceira geração de direitos tem mais caráter coletivo que individual, sendo apresentado como direito dos povos ou direito de solidariedade”. De acordo com estudo do Banco Mundial, entre 2014 e 2018, o crescimento da população que sobrevive na condição de miséria no país foi de 67%. Em 2018 as pessoas que sobreviviam com menos de US$ 1,90 por dia no Brasil girava em torno de 9,3 milhões. Isso bem antes de se imaginar que pudesse ocorrer uma pandemia nas proporções da que está ocorrendo, e desnudar a nossa real fragilidade. É por isso que aquela palavra nos chama tanto a atenção nesse momento que atravessamos. De outra parte, diante dessa calamidade, as doações ultrapassam R$ 1 bilhão, contabilizada no último dia 8, pela ABCR (Associação Brasileira de Captadores de recursos), sendo a saúde o setor mais beneficiado com as doações. Está claro que precisaremos da reponsabilidade de todos, e mais, de uns pelos outros. O momento nos incita a uma reflexão, e nos impõe o dever de ação para com o próximo e para com nós mesmos. Estamos diante de um desafio de perpetuação digna da humanidade. O homem se desloca do centro do universo para uma posição periférica, e depende de muitos para continuar nesse plano. Nunca foi tão nítida a teoria do efeito borboleta “o farfalhar das asas de uma borboleta no Brasil pode causar um furacão em outro continente”, e/ou vice-versa.
Trago de volta uma pergunta que deixei em um artigo publicado neste mesmo jornal há algum tempo, mas com outra conotação:
Qual o fundamento de conseguirmos uma sobrevivência digna se não formos acompanhados por muitos?
Artigo publicado no Jornal Correio da Cidade, na edição 1522/2020.
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