Filhos da terra não a conhecemos
Acad. Edézio Teixeira de Carvalho
Amigos: Estamos há um mês, eu e esposa, em esconderijo residencial, sem presença física das filhas e netos. Uma delas trouxe os dois netinhos locais duas ou três vezes em um mês e descemos para vê-los. Acenamos, batemos palmas e nos despedimos com beijos a distância segura. Tenho feito trabalhos para clientes condicionado pela necessidade de permanecer recolhido (idade, diabetes, duas mamárias e uma safena há 15 anos, e outras facadinhas médicas; no conjunto a esposa brinca com amigos “que eu só vou na cartucheira”). Irresponsabilidade minha seria imperdoável, porque a cartucheira não assusta o tal COVID. Espero sair nuns 15 dias ainda sabendo dirigir. Além das obrigações acima, acompanho, naturalmente, as notícias.
Estarão todos pensando: Afinal, sairá hoje alguma geologia? Pois não é que sai daquelas que não aprendi no ginasial, assustadíssimo com certas medidas pretensamente ambientais, de amplitude universal, como a gigantesca campanha contra a caça da baleia, com pelo menos dois episódios surpreendentes, o primeiro do enterro no Rio em terra firme da jubarte cujo corpo poderia ter sido arrastado para o meio da baía de Guanabara por rebocador disponível no local para alimento ambientalmente oportuno. Outro episódio há pouco mais de ano: Cem baleias morrem encalhadas em costa da Nova Zelândia, dessa espécie que se dizia em extinção. Mas como (?), pergunto ao lembrar-me dos 370 milhões de quilômetros quadrados de mar e nada menos que 100 baleias acidentadas em diminuta costa. Quantas estariam no resto? Preciso explicar meu pensar geológico, incluindo no mundo geológico a baleia, a ele pertencente por trocar suas gigantescas massas retrabalhadas com resíduos de massas minerais costeiras ou abissais, com areias, siltes e argilas perdidos, levados por intensas manchas de erosão que já quase mataram o São Francisco, com o assoreamento levado por ele mesmo e por seus obedientes tributários. Uma das razões pelas quais se insistia na suspensão da caça da baleia era a profunda dor que ela sentiria ao ser arpoada, como se lhe doesse mais do que a do frango ou leitão rasgado a canivete e fico a pensar em cada uma ao peso de milhares de espécies como as citadas, estas sim podendo ser expostas ao doloroso infortúnio.
Onde terá havido dor maior? E para multiplicar esses pequenos substitutos para compensar seu peso na demanda alimentar do mundo? Temo substituição maior que a tolerável para completar os campos cerrados de Minas e Centro-Oeste por campos futuramente abertos da maior reserva florestal do mundo. Haverá quem queira, alternativamente, proibir a todo casal o segundo filho. Afinal é evidência geológica que devemos buscar de volta o solo perdido lá sob a forma da mais volumosa e incômoda jazida do mundo atual para, trazendo-a de volta a recompor a capacidade de armazenamento da água perdida nos processos erosivos naturais e provocados, criarmos sociedade minimamente comprometida com soluções geológicas que pede o planeta. Infelizmente parece ainda termos de ver por dezenas de anos a inexistência do ensino de leitura geológica universal dos 10 aos 15 anos, sem presença de alfabetizado em geologia básica em toda a programação jornalística brasileira. Das guerras convencionais a humanidade saiu com avanço técnico-científico. Esta contra o COVID já gerou conhecimento, métodos novos e evolução social. Aproveitaremos?
Belo Horizonte, 30 de abril de 2020.
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