Oração fúnebre proferida pelo Acad. Wilson Baêta de Assis
Exmo Sr Presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette Acadêmico Moisés Mota em nome de quem, com a devida vênia, cumprimento os demais companheiros Acadêmicos presentes a este momento, bem assim a todos quantos nos honram com suas presenças. Prezados filhos e filhas, bondosos amigos e familiares da querida colega acadêmica Avelina Maria Noronha de Almeida.
Senhoras e Senhores,
Homenagear e reverenciar, é certamente com esse pensamento que a academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, na instrumentalidade desta solene oração, rendemos neste momento a um de seus mais eminentes membros, este preito de gratidão, no qual já se manifesta a saudade. Todavia antes de tudo, gratidão e justiça.
Sendo esse o pensamento de todos os acadêmicos, e a fraternidade o incenso na liturgia desta hora, não importa quem seja o orador. O que efetivamente conta, é o imperativo que todos nós sentimos na ânsia voluptuosa de expressar através de cada palavra a tradução de verdadeira gratidão e justiça.
Parafraseando a colega acadêmica Efigênia Janoni gostaria de iniciar esta oração empregando algumas de suas expressões, em sua oração de saudação, quando a Academia Municipalista de Letras de Belo horizonte, abrindo suas portas, acolhia nossa colega Avelina Noronha como membro efetivo em suas fileiras. “AVE AVELINA CHEIA DA GRAÇA”
Ao ocupar a tribuna neste momento, sinto-me sobremaneira honrado. Jamais poderia esquivar-me, tão pouco furtar-me ao dever de pronunciar algumas palavras, ainda que singelas, tais os laços de admiração e amizade que me ligavam a companheira acadêmica Avelina Noronha, a quem tanto fiquei devendo pelos estímulos que sempre me trouxe.
Aqui, portanto estou desincumbindo-me da sagrada missão de externar meu agradecimento, bem assim expressar em nome de meus pares nossos mais efusivos agradecimentos pela inspiração a nós devotados que como incenso de aroma suave adorava esta casa.
Entendendo todos nós, que a acadêmica Avelina com sua verve pura, vida ilibada, suas obras, virtudes, inteligência, caráter e coração, escreveu uma página que não se estuda e interpreta em 20 ou 30 minutos. Limito-me, portanto a evocar meramente o seu nome, pois, para todos nós o seu nome definitivamente se consagrou. Longas evidentemente seriam as minhas palavras se me dispusesse comentar toda a sua obra.
Entretanto, ao escusar comentá-la, não a menosprezo, muito ao contrário, ouso afirmar que nada fica a dever a ninguém. Certamente perfila entre os sábios e entendidos. Levantou garbosamente o pavilhão da cultura, quer seja como escritora, ou historiadora. Todo esse talento por incrível que possa parecer, contrastava com a singeleza e a humildade.
Dou este testemunho pessoal, sobretudo, por ter com ela convivido em laços estreitos nos anos em que estive à frente da Cultura do Município. Não foram poucas às vezes em que recorria a ela em busca de auxílio às minhas funções, notadamente no campo da cultura histórica do município. Viveu entre nós somente a distribuir os bens da inteligência.
Carissimos filhos, filhas e familiares da acadêmica Avelina, Segundo a narrativa neo-testamentária contida no livro de Hebreus no décimo primeiro capitulo no versículo primeiro, ali, o livro sagrado esclarece a todo o Israel de Deus, que; A fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não vêem.
Ainda que a matéria em breve estará distante dos nossos olhos, entendemos também, por outro lado, que o seu espírito se encontra noutra dimensão.
Ainda assim, num capricho da imaginação, sorvendo a essência daquela exortação aos hebreus, minhas palavras a partir de agora serão proferidas no tempo presente, como se sua presença nos dois sentidos, aqui se encontra entre nós, nesta sessão solene.
Contudo, sei que é utopia, entretanto é válido o meu sonho. Contudo, suplico receba nesse devaneio sentindo-me demasiadamente pequeno para demonstrar com simples expressões de linguagem o nosso respeito e admiração por sua figura impar. – pedra angular de nossa cultura.
Prezada e muito querida amiga acadêmica Avelina Noronha. Confesso a você que a minha debilidade é ainda mais fragilizada ao ver-me no dever de traduzir o sentimento real, que nos invade a todos nesta hora, em especial, o nosso cenáculo.
Embora seja visivel minha dificuldade na busca das palavras, para na construção das frases traduzirem a dor que nos assola; a lágrima furtiva que nos rola na face, é o lenitivo que agiganta o nosso espírito. Sentimos evadir dos nossos corações algo inexplicável. Um estado de coisas. Angústia, dor, saudade, respeito, admiração. Tudo isso efervesce como um turbilhão emanando das profundezas de nossas almas.
Meditando, procuro particularmente entender essa sinalização do espírito. De repente, num êxtase, vejo o meu ser interior saciando a sede do saber, bebendo de uma fonte a jorrar cristalina. Ergo os olhos, vejo-a menear a cabeça e um sorriso largo como que a discordar de minhas palavras elogiosas. Mas… ainda assim vou prosseguir.
Quantas vezes, como um brigue em denso mar, assolado pelo escarcéu de gigantescas ondas, aportei minha frágil embarcação no porto seguro do seu conhecimento. Para mim, para nós, e para tantos outros, você querida companheira é a coluna hercúlea do saber, a âncora de nossa embarcação, a figura exponencial nas mais diversas ramificações da cultura, sobretudo, história, filosofia, e em especial a nossa querida Lingua Pátria; bem assim mutos outros seguimentos, não omitindo a fé cristã que você ardorosamente defendeu e cultuou.
Rendemos-lhe nesta hora a homenagem que lhe é devida. De certa forma ao reverenciá-la contemplo também com os olhos da fé, relativa porção do amor essência, o ágape, herança da fé apostólica que a todos impulsiona a amar o semelhante.
A comunidade lafaietense, e em particular nossa Academia de Ciências e Letras, usufrui de um grande acervo histórico cultural, graças ao seu talento e á sua luta pertinaz no campo das pesquisas, paradoxalmente aliada a uma paciência mística como a do profeta Jo. Sua obra é um marco no avanço progressista de nossa terra; terra que você tanto amou…
Nunca a procurou alguém que retornasse sem o que buscava isto, evidentemente porque você peregrinou entre nós, vocacionada como uma discípula devotada às artes. Você, cerra fileiras entre aqueles felizes, abençoados e grandes, que como visionários, agraciam a humanidade de tempos em tempos surgindo entre os mortais. Uma vez entre nós, dotado de um discernimento diferenciado devota-se à missão, e nesse comissionamento, salta aos nossos olhos sua admirável abnegação.
Temos um imensurável tesouro histórico resguardado. Parte dele hoje é indubitavelmente, graças ao seu tirocinio. Um povo sem história, não tem passado, não tendo passado não vislumbra o futuro. Hoje, você cerra fileiras fazendo parte da galeria imensa dos nomes inesquecíveis, que nos autorizam a dizer algo mais as gerações do futuro.
Terminando faço agora minhas e de meus pares esta saudação configurando-as ao Império Romano dos Césares.
AVE AVELINA CHEIA DA GRAÇA. QUEM ESTÁ AQUI REVERENTEMENTE TE SAÚDA.
As palavras que ora lhes dirigimos não são somente minhas e de meus pares. Não. Uma voz enérgica, mais vibrante, oriunda do mais profundo abismo de nosso entendimento, proclama que é também de todos quantos amam o belo, o insondável, o indescritível. Todos formamos um coral de vozes cantando num só naipe gratidão sincera à artista maior. Cantata, que no ato final aliviar-nos-á, convencendo-nos da sinceridade desta homenagem.
Querida companheira acadêmica Avelina Noronha.
Sua partida nada mais é que um holocausto às letras, às artes, a cultura, e a terra que você tanto amou. Receba de todos nós o penhor de nossa eterna gratidão. Assim, nada mais nos resta a não ser assistirmos impassíveis seu infausto passamento. Sua convocação à casa do Pai mais aumenta nossa admiração fazendo com que esta homenagem venha a ser mais cabal, mais solene, mais grandiosa.
Requiescant in pace.
Acadêmico Wilson Baêta de Assis
membro-efetivo cadeira 27
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