
FELIZ NATAL!

Avelina Maria Noronha de Almeida (1934-2021)
— Mãe! Que é FELIZ NATAL?
— FELIZ NATAL, meu filho, é…o mesmo que: JESUS NASCEU!
Menino descalço,
descalço e friorento,
o morro desceu.
Na cabecinha a frase que por toda a parte ouvia,
mas não entendia: FELIZ NATAL!
Dissera a mãe: “JESUS NASCEU! Jesus nasceu?…
Em cima do muro, na noite escura,
arregalados, dois olhos
furavam a vidraça.
Lá dentro a grande árvore
(casa de gente rica)
consteladinha de luz!
Presentes dependurados
como frutos sazonados.
Bolas multicores,
muito ouro,
muita prata.
Tiniram vidros. Alguém gritou: — FELIZ NATAL!
As perninhas sujas, arrepiadas,
outra vez no chão andavam
sem entender nada: Jesus nasceu?…
Pela porta de grandes vidros,
no restaurante chic,
de novo dois olhos arregalados
furaram a vidraça.
Mesas fartas, apetitosas.
Mulheres charmosas.
Homens sorridentes.
Abraços, cumprimentos.
A todo momento se ouvia: — FELIZ NATAL!
O menino saiu andando,
agora quase chorando,
sem entender nada. Jesus nasceu?…
Subiu desconfiado
os degraus de mármore
de uma igreja linda.
Viu a gruta. Num bercinho de palha, um menino.
Anjos, pastores, bichinhos, Reis Magos,
a “barba de pau” dependurada…
O menino encantou-se com a estrelinha.
Murmurou, a seu lado, a menininha:
— JESUS NASCEU!
Saiu de novo andando,
ainda sem entender nada. Jesus nasceu?…
Na vitrine da grande loja
grudaram-se os seus olhinhos
num carrinho eletrônico
sofisticado e caro.
Empregados o tocaram,
impacientes.
Queriam fechar a loja.
Mas o dono o viu. Viu o olhar.
Lembrou-se do filho em casa,
para quem levaria tantos presentes…
Num impulso,
abriu a vitrina.
Tirou o carrinho.
O menino assustou-se,
quis correr,
porém o homem o chamou:
— Toma! É teu!
O menino abraçou-se ao carrinho
E saiu correndo.
Menino descalço,
descalço e sorridente,
o morro subiu.
correndo pelas ruas da favela.
Chegou à porta do barraco,
abraçou a mãe,
e a frase veio quente
do pequenino coração:
— FELIZ NATAL! JESUS NASCEU!
Share this content:
Publicar comentário