Julieth Lais do Carmo Matosinhos Resende
Professora da FDCL
Assessora Jurídica na Prefeitura Municipal de Jeceaba

Waidd Francis
Cadeira 06
Patrona Profa. Maria Augusta Noronha

Professor da FDCL

As reflexões sobre o feminismo vem contribuindo, ao longo do tempo, para a ressignificação do papel da mulher na sociedade, não mais como coadjuvante, mas sim como protagonista da sua própria história.

O tema feminismo ganhou a pauta nos últimos anos, mas os desafios ainda persistem e devem despertar o interesse do leitor, dentro de diferentes perspectivas. A mitologia, por exemplo, pode ser um paradigma.

O diálogo entre o feminismo e a mitologia que se pretende estabelecer neste texto busca ressaltar alguns aspectos sobre o protagonismo masculino em um dos mitos mais conhecidos da pós-modernidade: Conde Drácula. Tais impressões são necessárias para se estabelecer uma mudança da relevância feminina também nessa perspectiva.

Nesse contexto, destaca-se a obra “As origens de Drácula: o homem, o vampiro, o mito” de Arturo Branco. Após a análise de vários outros mitos, o autor dispôs-se a aprofundar os seus estudos na história de Drácula e toda sua trajetória até tornar-se o vampiro mais conhecido do mundo, desenvolvendo sua pesquisa na própria Romênia. O autor afirma que o objetivo de sua obra seria descobrir e demonstrar como os “Dráculas” se relacionam.

O personagem de Drácula, nascido na Waláquia, surge baseado em Vlad Dracula Tepes, em um momento conturbado entre invasões, conquistas e guerras. O autor deixa claro que o Drácula histórico buscou o poder e a ordem e nunca abandonou o seu povo, mesmo diante de desafios arriscados ou inimigos poderosos.

Vlad ficou famoso por suas conquistas e principalmente pela crueldade com que tratava suas vítimas. Em alguns relatos é possível perceber o seu lado mais perverso como o hábito de comer e ao mesmo tempo observar suas vítimas empaladas agonizarem. A morte de Vlad Drácula deu-se em combate contra os turcos, em 1476. O autor retrata de forma contundente toda a bruma em torno da relação da ingestão do sangue com a consequente e suposta imortalidade.

Mas o que chama muito a atenção na obra é o fato do autor inserir em seu trabalho um relato referente a uma mulher, que segundo ele é a “Vampira” mais conhecida da história, justamente por praticar comprovadamente a ingestão e banho de sangue, com o objetivo de manter a beleza e vida eterna.

Nascida em 1560, filha de um pastor protestante com sua própria prima, o que era muito comum na família, Elizabeth Báthory, uma mulher cruel e sádica, cuja maior diversão era torturar até a morte seus criados e principalmente suas criadas. Tantos foram os assassinatos, somados ao descuido da Condessa, possuidora de uma beleza rara e um desejo insano de mantê-la a qualquer custo que, em apenas dez anos, assassinou mais de seiscentas aldeãs em seu próprio castelo.

Após inúmeras denúncias, o castelo foi invadido e foram encontrados setenta corpos espalhados pelo castelo, além de instrumentos de tortura e vasilhas com sangue. Foi encontrado ainda um caderno no qual a Condessa anotava a morte de todas as servas, com uma descrição detalhada de todas as torturas que lhes tinha infringido. No caderno constavam mais de seiscentas e cinquenta vítimas. Segundo o autor, a Condessa e seus ajudantes foram presos, julgados e condenados.

Dentre as inúmeras informações que a leitura dessa excelente obra nos traz, a reflexão principal que se pretende destacar no presente texto é com relação à criação de um mito masculino, sendo que, na realidade, houve também na história a importância da presença feminina na criação desse mito, o que demonstra a transferência de origem da consagração do mito vampiresco somente para o masculino.

O protagonismo masculino marcado ao longo dos tempos e ainda hoje difundido reflete uma recorrente discursiva que coloca no centro da narrativa a figura masculina com o papel principal e a mulher como coadjuvante. E isso é perceptível em diversos contextos, seja na mitologia, na literatura, no cinema e nas histórias em quadrinhos. O homem, com raras exceções, assume o papel principal.

Necessário se faz revisitar grandes temas do passado, ligados ou não aos mitos, para uma nova e necessária interpretação sobre o verdadeiro papel da mulher na história e na criação delas.

E o que fica é: quantas pesquisas ainda serão necessárias e quantos mitos ainda deverão ser desvendados para que se desencubra tudo aquilo que foi retirado do feminino?

* Música: Super Homem – Gilberto Gil.

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