Belo Horizonte, 11 de abril de 2020

Caros amigos: Estou há quase um mês com minha esposa como em verdadeiro esconderijo no meu endereço residencial. Há uma semana minha filha médica trouxe meus dois netinhos de Nova Lima para vermos; parou na calçada e nós descemos para vê-los. Acenamos, batemos palmas e nos despedimos com o lançamento de apaixonados beijos muito a distância.

Nossa observação das normas de segurança tem sido rigorosa e eu invejo o excepcional heroísmo de todo o pessoal da saúde, de motoristas profissionais, de entregadores diversos, de ocultos e não menos importantes dos que trabalham de casa. Enquanto isso olho para as ruas próximas e para todos os canais de televisão que consigo acessar com inveja de todos os que trabalham e irritado com todos os para mim desconhecidos que se arriscam, arriscando a vida dos demais.

Um dos temas que mais acompanho é o da falta de percepção que muitos cidadãos têm a respeito das significativas desobediências civis, que incluem, como sabemos, pessoas das mais altas responsabilidades do tecido social e especialmente político.

Para saciar um pouco essa minha inveja, arrisco uma proposta de solução para essa falta de percepção. Ela seria intensamente reduzida se, com a autorização dos familiares desses heróis anônimos, quais “soldados desconhecidos”, houvesse a divulgação sistemática sempre que um falecesse, que, imediatamente, receberia Medalha do Mérito.

Ainda com autorização especial dos parentes, poderiam também esses apontar seus falecidos, possivelmente com impacto até mais elevado que no caso dos falecidos profissionais. Os familiares que autorizassem essa forma de divulgação estariam prestando a toda a sociedade ajuda inestimável ao país para conter a excepcional crise porque, além dos heroicos servidores da humanidade, que, sem percepção do momento, por enquanto eles “ajudam a morrer” estariam eles, ora vejam, contribuindo para a preservação da própria vida, que poderia vir numa, às vezes sempre distraída, saída futura.

Que Deus nos proteja.

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