Animais de meu cardápio

Acadêmico Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro geólogo

Cadeira 04
Patrono Waldemar Alves Baeta, geógrafo

Aí por 1976 comi tatu em Barbacena; pouco antes ou depois, rã em Juiz de Fora; mais tarde um réptil em Belo Horizonte, de cada caso apenas uma vez; em Portugal, especializado em caça, comi de três a quatro espécies, em 1978/79. Mais para o final do século passado, mesmo não sendo especialista nesse consumo, comecei a ficar preocupado com o crescimento do número de espécies incorporado ao das proibidas. Aí por 1970, ouvi a colega da UFMG, ambientalista, dizer alegremente que vira capivaras na lagoa das Codornas. Por essa ocasião vi um sitiante reclamando com funcionário de banco do Campus das dificuldades que enfrentava para pagar seus empréstimos rurais. Ao sair, resolveu contar-me a história: “tenho sítio aqui por perto, na margem de ribeirão, sem poder nele plantar a menos de 30 metros da margem. O que me sobra para plantar, descontando sede, chiqueiro, galinheiro, pomar, é pouco mais de 50% da área total. Meu milho mal dá para sustentar porcos, galinhas e o angu, meu e dos cachorros. Comecei a ver capivaras comendo meu milho! Já vi que terei de reforçar a produção para dividir com elas, e preciso comer mais porcos e galinhas, que pedirão mais milho”!

Li recentemente que os japoneses chegam a ter 70% de cobertura arbórea do território, pouco maior que o de São Paulo, com 130.000.000 de habitantes (!) mas que não foi sempre assim, pois em tempo passado tinham o território mais ocupado por culturas e rebanhos. Resolveram buscar no mar baleias e peixes que tornaram seu sustento fortemente apoiado no mar, e puseram-se a replantar florestas. Isto explica porque são clientes da agropecuária estrangeira, inclusive amazônica. Mais recentemente ressurge a disposição de recorrer à caça da baleia, e não posso deixar de lembrar-me das numerosas vezes que li sobre declarações de que as baleias haviam-se tornado próximas da extinção, mas o que aconteceu há pouco mais de um ano na costa da Nova Zelândia, senão que nada menos que 110 baleias morreram encalhadas na praia!

O sistema geológico é formado pelo componente mineral, que inclui rochas, solos e componentes intermediários; o transitório, formado por flora e fauna (nós incluídos); o itinerante representado pela água dos oceanos, rios, lagos, dos aquíferos, e do ar atmosférico. Se tirarmos um desses componentes, o sistema geológico estará incompleto. Pois bem: é pela quase generalizada exclusão dos componentes transitório e itinerante, que podemos dizer que as massas humanas da terra, com variações de intensidade, são quase todas analfabetas do ponto de vista geológico, desse sistema natural facilmente legível, desde que ensinado a todos durante o ensino básico.

Voltando ao tema, por que a capivara é tão diferente do porco, que vive preso enquanto ela passeia pelos jardins da Pampulha (para alegria de Burle Marx?) e que já vi às dezenas passeando num parque de Holambra (SP) e na margem esquerda do rio em Blumenau; a ave tão diferente da galinha, a baleia tão diferente do boi que ainda bezerrinho molha a boca da saliva do churrasqueiro? Pois esses seres excluídos, por sua exclusão, deixam o sistema geológico à beira da extinção de utilidade, o que fará nossa madrinha Europa compreender que a Amazônia está longe de ter área de constituição arbórea suficiente para abrigar índios, mineração, agricultura comercial, faunas consumíveis e protegidas e extrativismos tolerados para abastecer essa Europa satisfeita com seus não tão grandes bosques, e que nos envia seus trocados enquanto ameaça parar? Acordamos ou não?   

Autor dos livros Geologia Urbana Para Todos – Uma Visão de Belo Horizonte (176 pp, 1999, Belo Horizonte – MG) e Morte e Vida São Francisco (144 pp, 2018, B H – MG); coautor do Capítulo Áreas Urbanas do livro Geologia de Engenharia e Ambiental da ABGE. ABGE, 1998, São Paulo – SP); Autor do Capítulo 11 intitulado A Plataforma Geológica e o Desenvolvimento Sustentável do livro Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais, Vol. 2 p. 291 a 312, Projeto Manuelzão, 2005 Belo Horizonte – MG; Coautor do capítulo Gestão Ambiental do livro Geologia de Engenharia e Ambiental da ABGE, 2018, São Paulo – SP; 453 Geocentelhas completadas com a atual e artigos de congressos.  

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