Isabel Godinho de Lima
Advogada e mestranda em Direito pela PUC-Rio

Waidd Francis
Cadeira 06
Patrona Profa. Maria Augusta Noronha

Professor da FDCL


A pandemia continua ceifando vidas. Uma pessoa é sempre um ente querido de alguém, e a dor da perda é muito semelhante entre nós, seres humanos.

Como se não bastassem outros problemas que somos obrigados a suportar – como o desemprego, a violência, a falta de moradia, dentre tantos outros – temos agora esse vírus que não só assusta, mas assola o nosso bem estar físico e mental.

Segundo o médico Drauzio Varella, “depressão é transtorno traiçoeiro que transforma a vida num fardo difícil de suportar”. Cumpre destacar que mesmo antes da pandemia a depressão já era considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “o mal do século”.

Vivemos um momento em que as redes sociais exercem um fascínio entre crianças, jovens, adultos e até nos idosos. A sensação se aproxima da situação em que se alguém não está nas redes sociais, ela simplesmente não existe. Essa situação nos remete ao conceito de servidão voluntária apresentado pelo jovem Étienne de La Boétie: “é o povo que se escraviza, que se decapita, que, podendo escolher entre ser livre e ser escravo, se decide pela falta de liberdade e prefere o jugo, é ele que aceita o seu mal, que o procura por todos os meios”.

A busca pela felicidade plena e constante, muitas vezes confundem momentos de euforia com a própria felicidade. Carlos Drumond de Andrade, em seu poema “Ausência”, reflete que “não há falta na ausência”. E esse tipo de angústia, digamos, plantada ou até mesmo buscada, muitas vezes nos leva a uma medicalização como fuga dessa ausência.

E a pergunta que devemos nos fazer é: do que gostamos? O que realmente nos faz bem?

Em recente artigo publicado neste semanário, intitulado “a construção da vida se faz entre perdas e ganhos”, o Padre Ezequiel Dal Pozzo refletiu que “…Pleno significa completo, sem limite, sem finitude, sem carências, sem desejos, feliz por ser o que é, sem necessidade de nada além daquilo que tem, pleno na realidade em que está. Só a plenitude será uma realidade sem dor”. Padre Ezequiel afirma ainda que não se pode anestesiar a dor com analgésicos, a dor existencial não se acomoda.

Esse problema, essa falta, essa parte que falta – fazendo menção ao livro de mesmo nome do escritor Shel Silvestein-, chegou com uma forte abrangência no ambiente de trabalho, motivo que ensejou discussões no Fórum Econômico Mundial deste ano. O encontro, que deixou de ser presencial para ser realizado no ambiente virtual, demonstrou, já pelo seu formato, que as relações e a realidade mudaram rapidamente. As vivências, os debates e as conclusões são todas obtidas por pessoas que talvez nunca se viram cara a cara e nunca apertaram a mão. A troca de ideais, no entanto, continua intensa e os resultados a que os participantes chegaram fazem- nos refletir mais intensamente sobre este momento.

Hoje, com o advento do home office, trabalho e casa não apresentam limites tão claros. Os marcos entre a vida pessoal e profissional podem inclusive desaparecer se não tomados os devidos cuidados. A facilidade do contato pela internet proporciona- nos a falsa sensação de que tudo é urgente, devendo ser resolvido de imediato.

Além disso, há, ainda, a própria realidade pandêmica e o medo do desemprego, que atuam como gatilhos na transformação de profissionais saudáveis a doentes, de pessoas ativas a pacientes. Estresse, Burnout, Depressão e Insônia são palavras que estão, cada vez mais, presentes no cotidiano laboral de muitos trabalhadores.

Assim, o questionamento que remanesce é: que cuidados podem e devem ser tomados para que esse novo ambiente de casa-trabalho-casa seja salutar? O que é possível fazer para que esse ambiente virtual nos cause mais a plenitude relatada pelo Padre Ezequiel Dal Pozzo do que as angústias tratadas por
Drumond?

Pois bem. De acordo com a OMS, para cada US$1 investido em saúde mental, há o retorno de US$5 em produtividade. Os cuidados, portanto, partem tanto das empresas, com programas de atenção aos funcionários voltados à saúde mental, quanto dos empregados, que sentem maior receptividade em entender que está tudo bem em não estar bem.

Desse modo, uma das conclusões obtidas a partir do Fórum Econômico Mundial é que, atualmente, preocupar-se com a saúde mental é bom para as pessoas e também para os negócios. Além disso – não se pode esquecer nunca – resguardar a saúde é também um dever do Estado, previsto nos artigos. 6º e 196 da Constituição Federal de 1988 e que todos os brasileiros temos direito à saúde.

É fundamental entender que anestesiar a dor mental com analgésicos resultará em uma vida – e consequentemente um trabalho – que não se sustenta a longo prazo. Não é preciso que esperemos a doença romper seu silêncio para que tenhamos voz contra ela. Silêncio e som são ambos sintomáticos e necessitamos entendê-los nesse mundo de excessos e faltas.

Diante de toda essa questão hoje enfrentada por nós, louvável é a iniciativa das empresas que se preocupam com a saúde mental de seus funcionários, lembrando que esses mesmos funcionários também são esposas, esposos, namoradas, namorados, mães e pais de família.

*Certas coisas – Lulu Santos.

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