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Sarah Sanna Zanella

Longe, já no passado, eu, oradora da primeira turma laureada do Ginásio “São José“, disse emocionada: o roseiral em flor das nossas almas jovens e cheias de fé, no cálido enlevo das cousas adivinhadas, reabre hoje, com a suavidade mágica da sua palheta dourada, os nossos emocionados corações, para, neles, descortinar a visão esplendorosa de mais uma primavera na vida!

Quantos anos se passaram!… Glorifiquei naquele instante, com a alma em êxtase, a nova alvorada que haveria de vir, com bênçãos celestes, pois a semente lançada no terreno fértil da nossa vontade firme foi pródiga e fecunda. Germinou, cresceu, espalhando raízes profusas, intumescendo-se, na seiva esplendente de sábios e santos ensinamento… Comemorávamos o alcance final de uma vitória: a vitória do nosso esforço! Mas apenas havíamos palmilhado o início de uma jornada edificante. Iniciávamos ali o afanoso caminhar por ínvias ladeiras, trazendo-nos novos cenários no Palco da vida.

Era dezembro de 1942.Vivíamos uma hora dolorosa em que o Brasil fora levado à sanha da guerra. Como então o ultimarmos numa esfuziante alegria para a comemoração festiva do encerramento do nosso curso ginasial? Nossos corações se transmudaram em altares votivos à Pátria e cultuávamos o heroísmo dos nossos irmãos que se batiam pela nossa liberdade. Não houve dúvidas. Mudamos os nossos festejos de formatura em parcela de auxílio, ofertando-a à Federação dos Estudantes do Brasil, na compra de um avião para defesa do nosso Brasil amado. Hoje, orgulhamo-nos por esse feito, bendizendo a Deus e as suas divinas graças! Mas os nossos corações ainda embalam o berço da esperança para que esse divino consolo seja a mais bela realidade do amanhã, trazendo para toda a humanidade o verdadeiro sabor da felicidade terrena.

Todas nós trazemos bem viva a lembrança de Irmã Rita Teles de Jesus Sacramentado, superiora da Casa de Nazaré naquela época. Sua modéstia excessiva não nos inibia de admirá-la, respeitá-la, e, hoje, em uníssono, queremos patentear o nosso reconhecimento e gratidão, trazendo conosco a salutar lembrança de tanta virtude, abnegação e caridade.

De nossos mestres, quanta saudade!… Estejam certos de que em nossas almas se aninha ainda uma gratidão profunda e imperecível. Pedi-lhes que orassem à nossa Mãe dos céus, para que não nos faltasse a coragem dentro do mundo… Foram ouvidas as suas preces, pois soubemos seguir os seus exemplos, e conseguimos fazer jorrar com abundância o mel dulcíssimo do seu amor transmudando em sol o pão ázimo de cada dia. Bençãos divinas não lhes faltaram pelo muito que devotaram à causa de nossa felicidade.

Éramos doze. Hoje somos apenas onze, pois Lígia foi prematuramente para a morada celeste, porém continua viva em nossas recordações, em nossa saudade. Seguimos caminhos diversos, mas caminhamos resolutas, fortes e altivas, conquistando nossos ideais. Levamos do Nazaré todo o precioso manancial de fé e ensinamentos que iluminaram nossos passos com a clareira divina da sabedoria de Cristo. Se atravessamos caminhos umbrosos, soubemos muito bem transformá-los em caminhos de luz, levando no coração os preceitos da sabedoria. Daquele que tudo vê, sabe e governa.

Como disse Roberto Damasceno pinto, éramos:

Doze mulheres – uma dúzia cheia…
Foram, com certeza,
Selecionadas numa bela empresa.
Todas as doze em uma só colmeia…

Oh! Nazaré querida! Casa sagrada que acolheu os sonhos e encantamentos da nossa mocidade feliz, que já se distancia no horizonte! Em nome de suas alunas da primeira turma do Ginásio São José, eu lhe digo comovida, glorificando em êxtase seus dias, o nosso muito obrigada.

Originalmente publicado no livro: Reminiscências do Nazaré, antologia organizada pela Associação dos Ex-Alunos do Colégio Nossa Senhora do Nazaré – Conselheiro Lafaiete – agosto de 1996.

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1 comentário

  1. Saudosa, Dona, Diretora, Professora Sarah!
    Tive o privilégio de ser seu aluno na escola Meridional, onde a referida teve todo acolhimento e paciência comigo nos momentos de dificuldade durante a minha adaptação à escola!

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