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José Lima / Divulgação – fonte: portal UFMG

Tu foste poesia entre vivos, que voavam despretensiosamente das torres das igrejas católicas de Ouro Preto. Aprendeu a ver o mundo entre tipos que marcavam folhas na função comunicativa das palavras, suas amigas de sempre. Deu luz a muitos poetas modernistas, valorizou outros em seus poemas-instalação, revista-saco, filipetas, impressos. Fez chover, sem nuvens, sem água. Foi poiesis.

Guilherme Mansur nos deixou ontem, dia 27, na capital Belo Horizonte onde estava em tratamento. Nestes dias quentes e distorcidos, os céus ouropretanos se fecham em brumas, não pelas condições climáticas que alcançaram índices históricos, mas sim pelo luto de milhares de leitores e admiradores Brasil afora.

Suas escritas e de outros, cuspidas — como ele mesmo dizia — pelas torres das igrejas seculares, patrimônios da humanidade, nunca tocaram solo infértil. Crianças, jovens e idosos dançavam entre ventos e papéis em busca da coleção de cores que pintava o azul do legítimo céu de brigadeiro. Você, Guilherme, fez dos tipos — história, da memória — canção, do abstrato — concreto e vice-versa. Seu poder estava nas palavras e no papel e continuará a exercê-lo, em outra constância.

Choveu poesias das torres da Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto no encerramento do EILD2016 – Encontro Ibero-americano de Lighting Design. 

Mansur é reconhecido por três ofícios: poeta, editor e tipógrafo. A poesia já sabemos, única, importante e mais que reconhecida. Editor democratizou e compartilhou novas formas de ser e estar poesia. Deu-lhe vida nova. Sobre a tipografia, herança familiar, ofício cultivado em primeiridade, secundidade e terceiridade, desempenhou papel crucial em sua carreira. Fez concreto aquilo que abstraía de sua mente. Fez circular colegas já consagrados ou não. Assim, de modo involuntário, talvez, solidificou o laço histórico da cidade com este ofício que merece destaque.

A antiga Vila Rica é precursora mineira da arte tipográfica. A primeira impressão que se tem registro ocorreu em 1806, sido feita pelo padre José Joaquim Viegas de Menezes (1778 – 1841), o pai da imprensa mineira e entusiasta da afamada cerâmicas Saramenha.

Assim como o sacerdote, Mansur foi precursor em sua arte, fazendo brotar em solo mineiro a ideia brilhante da chuva de poesias. Evento copiado em várias cidades do Brasil e do mundo. Em tempos diferentes, onde se pode imprimir sem papel, Mansur voltou às origens imprimindo artesanalmente as filipetas em sua oficina. Se ontem aplaudimos o céu decorado com sua lavra, hoje aplaudimos a semente viripotente que se tornou.

Seu passamento entristece a todos, mas sua obra — indelével — permitirá tê-lo vivo entre os vivos. Descanse em paz.

Moises Mota
presidente da ACLCL e associado do IHGMG
moises@ihgmg.org

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